terça-feira, 29 de setembro de 2009

Ei Eli Efi o que que acontece? Programa Freestyle entrevista Eli Efi!

Eli Efi e o single de "Propaganda"

Um dos Mcs mais importantes da história do Rap Nacional: Eli Efi! Durante anos conhecido através da sigla LF e à frente do DMN, um dos grupos mais respeitados do cenário brasileiro, Eli Efi trocou uma idéia com Marcílio do Programa Freestyle e diretamente do Bronx em Nova Iorque falou sobre o ambiente em um dos berços do Hip Hop mundial, a realidade entre Brasil e Estados Unidos, política brasileira, rap nacional e sobre seu mais novo trabalho, a música “Propaganda” que faz parte de seu primeiro trabalho em carreira solo e que tem o lançamento previsto para 2009! Confira esta entrevista exclusiva do H.Aço Eli Efi para o Programa Freestyle!

Por Marcílio Gabriel

P.F: “Propaganda” essa é a sua nova música de trabalho, fale um pouco sobre o som:

Eli Efi: Pra mim uma experiência nova que estou vivendo pelo fato de ter produzido a música (uma das coisas que sempre tive vontade de fazer), escrito a letra e incorporando essa minha nova trajetoria como Solo.
Essa música na verdade é o acumulo de todas as coisas que tenho visto nos “últimos anos” tanto dentro do hip hop como fora dele. Às vezes bate uma tristeza em ver que os valores estão mudados, ou ignorados por pessoas que poderiam estar do nosso lado, por fazer parte dessa mesma raiz. Mas ao contrario disso, são pessoas que acabam nos evitando e legitimando os mesmos preconceitos que a burguesia sempre alimentou. O mais triste é saber que muita gente derramou o proprio sangue por nós, para assistir isso que muitos apresentam como sucesso. Às vezes parece que a nossa luta é só para comer nos mesmos restaurantes chic que os brancos comem, comprar roupas nas mesmas boutiques, sentar na mesma mesa, privada e morar na mesma vizinhaça. Acredito que a luta é bem maior que isso, é Humana e contra a desumanidade com diversos povos excluídos.
Parece que o tempo passou e não aprendemos nada e sim queremos mesmo é viver uma boa vida em uma redoma de vidro, criticando quem não se veste bem, que nao tem modos, nao tem etiqueta, etc… E coisas que diz respeito a uma comunidade que necessita de ajuda da mais simples que seja, simplismente são ignoradas completamente.

Enfim, Propaganda vem disso tudo que não tem servido para que os negros pudessem de fato respirar mais aliviados. Continuamos nesse mesmo circulo vicioso, onde no final do dia o saldo das coisas que nos afetam, só aumentam. Propaganda é a Arma do Negócio, quando fechamos os olhos para realidade para diamantizar nossos umbigos.

P.F: Você foi um dos principais artistas e mais respeitados do Rap nacional na década de 90 até o começo dos anos 2000 à frente do DMN, hoje morando em outro país e com uma cultura diferente você manteve a essência e originalidade de suas idéias em sua música. Como que é escrever uma realidade tão próxima do brasileiro mesmo com essa mudança de ambiente que você sofreu e se encontra?

Eli Efi: Gostei da pergunta! Bom acho que quando vim pra cá, tinha uma espectativa diferenciada do que realmente vejo aqui. Moro no Bronx ha 5 anos e o que vejo aqui não é muito diferente da realidade do Brasil. Acho que a diferencia está na forma cultural que isso é maquiado. O mundo esta sempre acostumado a ver coisas muitos requintadas e esteriotipadas que saem daqui, quando na realidade existe um terceiro mundo aqui dentro de um denominado “Primeiro Mundo”. No Bronx estão as escolas mais precárias, as alimentações que mais contribuem para que as pessoas fiquem obesas desde criança, a presença intensificada da policia, das drogas e da frustação de um monte de jovens que querem ser como os cantores milionários de rap, e sabemos onde essa frustação termina.
Filhos sendo criados por avós, ou pessoas que não fazem parte da familia, por que recebem dinheiro por cada criança que supostamente “cuidam”, que forma tiradas de seus pais biológicos por serem viciados em drogas, violentos, estarem presos, etc…é um sistema chamado Foster Care.
A maioria dessas pessoas são de origens negras, imigrante, latinas e também americanas.
Embora o descaso no Brasil ainda ser bem maior que aqui, os problemas que temos que combater nao difere muito, digo que são parentes.
Aqui se tem mais oportunidades sim , mas também coisas ilusórias como nos filmes de hollywwod. Verdades que não se destacam tanto para quem não vive aqui, o que mostram é o colorido “Da vida é bela”.
Quando você sente na pele o que é ser um imigrante negro, não falta elementos para compor músicas que servem para quem está vivenciando todas essas injustiças no mundo. Essa tem sido uma das minhas ferramentas de continuar escrevendo o que sinto e vejo e também estou sempre falando com amigos e pessoas de diversos lugares do Brasil.

P.F: São Paulo e Nova Iorque. Qual o balanço você pode fazer sobre a realidade das duas metrópoles?

Eli Efi: Uma parte dessa pergunta eu respondi na pergunta acima, vou complementar aqui!
Pra mim Nova Iorque é a capital do mundo, por isso tem gente de todos os lugares aqui. A diversidade cultural é muito grande que acredito que nenhum outro lugar tem. É uma das coisas que obriga os imigrantes estarem unidos ate por questão de sobrevivência devido, toda pressão que existe contra.
Pensei que ia chegar aqui e ouvir só rap (risos), mais na verdade o que é mais da hora é que as pessoas veem pra cá em busca do seus sonhos e reconhecem o valor que sua cultura de origem tem e passa amá-la mais do que antes. Falo isso por que os Porto Riquenhos, Africanos, Indianos, Árabes, Dominicanos, Jamaicanos, Chineses, etc, tem suas culturas muito presentes aqui. Moro num bairro onde eu escuto muita salsa, bachata por que tem muitos Porto Riquenhos e Dominicanos e também “hip hop” (assim como eles chamam as músicas que tocam nas rádios de rap comerciais aqui do tipo Souljah Boy). Pra mim a diferença dessas cidades grandes que me deixou impressionado foi essa diversidade cultural, que é muito rica e Nova Iorque é uma cidade que não dorme.
Tem coisas que são extremas demais no Brasil no quesito desigualdade, oportunidades e a forma esteriotipada do que é estar bem, que aqui vejo um pouco mais de liberdade nesse sentido.
No país como o nosso, a opressão é muito mais abragente e covarde, isso não quer dizer que aqui não seja também.

P.F: Qual a principal diferença entre a população carente americana e a população carente brasileira?

Eli Efi: Aqui nos Estados Unidos tem mais oportunidades, para estudar, para trabalhar (se tem disposição para trabalho). Por outro lado a população carente é a que sofre mais por não poder pagar um plano de saúde, que aqui é muito caro e tudo se paga, até mesmo hospital público. Não existe um posto público onde você pode passar, ser visto por um médico, e pegar um remédio. Tudo aqui é na base do dinheiro.

P.F: Você tem acompanhado as notícias do Brasil? O que você acha de alguns fatos que ocorreram na política brasileira, principalmente os que envolveram a crise no senado?

Eli Efi: Tenho acompanhado algumas coisas sim. As pessoas que são de boa índole, deveriam sair do senado e deixar essa privada se afundar na própria merda deles. Há muito tempo que essas pessoas que vem de famílias que tem acúmulo de atitudes racistas, facistas disfarçados de corderinhos, são maioria no senando. É difícil pra mim acreditar nisso mesmo sabendo a quantidade de pessoas dignas que estão lá. Eu acredito nas pessoas e não no senado!

P.F: O presidente Lula realmente é visto como uma pessoa popular e representativa do povo brasileiro por parte dos americanos, ou seja, o Lula “é o cara”, como disse o presidente dos Estados Unidos Barack Obama?

Eli Efi: Eu particularmente gosto do Lula e o respeito pela coragem que teve de enfrentar a presidência desse país, onde as pessoas estão tão cansadas de serem pisoteadas, que querem soluções batendo na porta do dia pra noite. Sei o quanto é dificil para algumas pessoas enxergarem isso, por que cada um tem sua visão de como tem que ser as coisas e como fazer. Claro que, tem muita gente que entende de tudo um pouco, mas ao meu ver o Brasil é um país gigantesco que pra resolver os problemas que ele tem, precisaria dividí-lo em 4 partes e muito mais que 8 anos de mandato, de pessoas com atitude como o Lula, para dar continuidade no caminho que ele ja percorreu até aqui, no sentido de mudanças. As pessoas também precisam saber reconhecer os acertos e dar mais suporte do que só criticar. Moral da historia: Ele chegou lá e outros como ele também podem. Isso soa pra mim como um tabu que ele conseguiu quebrar historicamente que serve de exemplo. Votaria nele de novo por todo respeito que ele fez o Brasil ter, dentro e fora.

Eli Efi em visita à Colômbia


P.F: O condado do Bronx foi um dos principais berços do Hip Hop Mundial. Como que é atualmente a cena do Hip Hop americano no local?

Eli Efi: Só lhe digo que não é mais como nos 70,80 e no começo dos 90. Isso é fato!

P.F: Como que é para um brasileiro difundir sua música, fazer seu rap em um país que tem sua história e é a principal referência no gênero? Qual o retorno que você tem aí nos Estados Unidos sobre seu trabalho cantado em português?

Eli Efi: Eu não esperava que ia tocar aqui quando cheguei. Sempre soube que as pessoas aqui não consumiam coisas que não entendiam ao contrario do Brasil, né? Mas eu fui participar de um evento uma vez logo quando cheguei aqui e muita gente curtiu, tentaram cantar os refrões das músicas, foi ai que eu percebi que realmente a música é energia que você transmite, é sentimento que você transmite, por que foi assim que entrei no hip hop no final dos anos 80 quando vi os vídeos do Public Enemy e Boogie Down Productions. Não entendia a letra mas sentia que estavam falando de algo muito forte e positivo.
Depois disso comecei a ser chamado para participar de muitos eventos e alguns deles com artistas de renome aqui como o proprio Chuck D, KRS One, Styles P, Talib Kweli, Hurricane G, David Banner, Dead Prez, entre muitos outros. Onde eles também gostaram muito. Por isso eu acredito que a essência do hip hop se espalhou para o mundo!

P.F: Você acompanha a cena do Rap brasileiro? O que você tem ouvido de rap nacional? Qual artista você destaca do cenário brasileiro?

Eli Efi: Bom eu tenho vários que gosto. To curtindo muito o trampo do Rapadura, Kamau, Emicida, Rael da Rima, Flora Matos, essa geração mais nova que teve a moral de dar continuidade na originalidade do hip hop, acompanhando sim a evolução sem perder a essência. Gosto muito disso... Tenho muitos nomes que não da para citar todos aqui. Curto nova ou velha geração não importa pra mim, o que importa é se estão fazendo coisa boa, de som, de poesia, de conteúdo, de talento. Fazer rap não é pra qualquer um embora seja uma música de menos requisitos pra fazer, do talento ninguém pode escapar. Gostar só é pouco, minha mãe gosta e não canta. A cara mesmo é amar isso. Eu Amo isso porque me fez e me faz não esquecer de ser adulto e humano.

P.F: Sobre a cena nos Estados Unidos, quais são os artistas que você destaca?

Eli Efi: No momento estou curtindo demais o trampo novo do Krs One & Buckshot, também fiquei feliz com a volta do Q-Tip e outros como o Joell Ortiz e o Pharoahe Monch. Também tem muitos artistas independentes (embora menos conhecidos) como o Blitz the Ambassador, All Natural, Invincible. Gosto do Jay-Z pelo talento que tem e por ser um dos fortes sobreviventes dentro desse hip hop desde começo dos 90. Isso sem contar o pessoal do Neo-soul como Raheem Devaughn, Dwele, Erykah Badu, Goapele entre muitos outros. Enfim, música boa é o que não falta…O que falta são esses artistas terem mais espaço. O que é muito chato aqui é o bombardeio do rap e r&b pop. Por um outro lado, tem uma cena muito louca em Nova Iorque de Djs e festas voltadas para a música de qualidade. Tem muita festa que só toca rap bom, soul, funk, e comprometida em apresentar novas músicas e gêneros ao público como Afro-Beat e até House music. A cena musical nas ruas de Nova Iorque está muito viva, só não aparece na mídia.


Eli Efi à frente do DMN no clipe H.Aço (1999)

P.F: Você está trabalhando no seu novo disco, agora em carreira solo. Fale um pouco como está a produção e um pouco sobre o álbum:

Eli Efi: Estou trabalhando duro nesse album, mas também com os pés no chão sem desespero.
Pra mim é um desafio, depois de estar mais 4 anos sem lançar nada e ser o primeiro álbum depois da minha saída do DMN. Mas ao mesmo tempo tenho curtido muito cada coisa por que eu e minha companheira, Dj Laylo, estamos trabalhando seriamente nisso, elaborando ideias, discutindo as letras, etc…
E eu tenho me realizado com tudo isso por estar produzindo a maioria das faixas desse álbum. Sempre quis produzir, por que quando não podia fazer isso acordava no meio da noite com uma musica pronta na cabeça que nao conseguia passar para outra pessoa fazer do mesmo jeito que ela estava na minha mente.
O álbum está marcado para ser lançado em Novembro e estou torcendo para estar aí logo mais para dividir pessoalmente esse momento com todos que me apoiaram e me apoiam!

P.F: Fora o Hip Hop, quais outros projetos você está envolvido e desenvolve em NY?

Eli Efi: Tenho feito produção de trilha para filmes como o documentário da minha companheira que estreiou na televisão aqui em junho. Há três anos trabalho como arte educador em escolas públicas dando aula de percussão, produção de música, também ensino as crianças mixar músicas, fazer uns Scratch básicos aprendidos e aperfeiçoados com o tempo nas boas aulas que meu parceiro DJ Slick me deu.

P.F: Os fãs podem aguardar uma vinda do Eli Efi ao Brasil para possíveis apresentações?

Eli Efi: Já, já!!!!!!

P.F: O Programa Freestyle agradece sua participação e aguarda mais novidades sobre seu trabalho e disco que está pra sair. Valeu Eli Efi!

Eli Efi: Eu que agradeço por todo esse apoio que é de suma importância para todos que estão fazendo hip hop por que ama isso e sabe o quanto ele tem transformado a vida das pessoas, humanamente falando. Valeu mesmo!

Veja sobre os trabalhos de Eli Efi:
www.eliefi.com
www.eliefi-djlaylo.blogspot.com
www.myspace.com/eliefi
www.twitter.com/eliefibrasil
www.facebook.com/eliefi

Tá afim de participar do disco do LF? Então clique aqui e saiba como.

Um comentário:

Anônimo disse...

VALEU IRMÃO...ADOREI A ENTREVISTA E CONCORDO PLENAMENTE COM TUDO!!!APROVEITO E DEIXO AQUI UM GRANDE ABRAÇO PARA VOCÊ E A DJ LAYLO....ESTOU COM MUITAS SAUDADES DE VCS!!!!SUCESSOS!!!